Regra de três
Clotilde Tavares | 10 de outubro de 2009Se você faz dieta para emagrecer ou está seguindo algum regime alimentar onde precisa controlar as quantidades de sódio, ou de carboidratos, ou da gordura que ingere por dia, vai se identificar exatamente com o meu assunto de hoje.
Geralmente, quando temos algum problema que exija o controle das quantidades ou da qualidade da alimentação que ingerimos, e vamos ao nutricionista, entre as diversas recomendações que recebemos está a de observar com cuidado o rótulo dos produtos que compramos no supermercado para adquirir exatamente aqueles que atendem às nossas necessidades. Por lei, todo produto tem que ter essa composição em nutrientes básicos expressa no rótulo, em local facilmente observável e em um tamanho de letra que possamos decifrar. Mas é aí que começam os nossos, os meus e os seus problemas, meu caro leitor.
Quer ver? Pegue na prateleira do supermercado, por exemplo, uma marca qualquer de requeijão. Olhe o rótulo. Lá ele diz que uma porção de 30 gramas tem, por exemplo, 70 calorias. Aí tente comparar com outra marca que está ao lado, na mesma prateleira. Essa já dá a composição por 100 gramas, e para comparar uma com a outra você tem que apelar para a velha regra de três: se requeijão A em 30 gramas tem 70 calorias, requeijão B em 100, vai ter “x”. Aí pegue a terceira marca, que já vai lhe dar a composição em 50 gramas, e não mais em 30 ou em 100, exigindo novo cálculo.
Pegue aquele pacote de bisnaguinhas, aquele pãozinho pequenino tão gostoso. O rótulo apresenta a composição por “porção”. E a tal “porção” não é, como seria lógico e cômodo para o consumidor, um pãozinho, mas “dois pãezinhos e meio”. Se você quiser comer somente um, tem que fazer a regrinha de três. Aí, quem não é bom de conta, ou não tem muita paciência de ficar de calculadora em punho enquanto faz as compras no supermercado sai prejudicado nessa história.
Isso nos atrapalha não somente em relação às calorias, como também em relação aos outros nutrientes, como o sódio, que faz mal aos hipertensos, e também em relação à famigerada gordura trans, ou gordura saturada, que toda pessoa de juízo deveria evitar. Como todo mundo sabe, ou devia saber, a gordura trans é uma gordura maldita, inventada pela indústria de alimentos há bem uns cinqüenta anos, e que gruda na parte interna das artérias como chiclete no cabelo.
Esse veneno químico está presente em biscoitos, massas, frituras industriais, e nos famosos claritos, chitos, bibos, tritos, kikos e toda essa porcariada crocante que encontramos embalados em saquinhos brilhantes e coloridos. É cruel, mas é a verdade, meu caro leitor: a estrada da perdição e da morte está pavimentada com moléculas de gordura trans, e é preciso manter-se longe dessa substancia assassina.
Mas como comparar as tais quantidades de gordura se tudo termina voltando para o problema antigo? Se as porções que norteiam a fórmula da composição mudam conforme a marca do produto, obrigando-nos ao mesmo exercício mental cansativo e duvidoso empregado para ver as tais quantidades de calorias?
Na dúvida, o que venho fazendo é deixar de comprar coisas cujas composições precisem de rótulos e que incluam pouco ou nenhum processamento. Banana, maçã, tangerina, alface, cenoura e tomate, frango, peixe, camarão, alface, rúcula, queijo de coalho, pão francês, abacaxi, pitanga e goiaba, doce de banana em rodinhas, manteiga (pois margarina tem a tal gordura trans), azeite de oliva, vez por outra um ovo de capoeira, café sem cafeína.
Quando vou comer fora, procuro pedir pratos mais simples, como uma massa com molho de tomate, um camarão ensopado, um filé com arroz e purê; e uma vez na vida outra na morte mato a vontade tomando um sorvete de creme com cobertura de chocolate, cheio, lotadinho de gordura trans, porque é preciso um pouquinho de droga de vez em quando para agüentar essa (às vezes) dura tarefa de viver.