O Haiti no meu coração
Clotilde Tavares | 15 de janeiro de 2010Não consigo tirar da minha cabeça o que está acontecendo no Haiti. Ontem à noite, depois que vi os noticiários na TV, meu coração ficou pesado, meus olhos túmidos e a garganta grossa: como ter apetite para encarar o jantarzinho caseiro que estava pronto quando as imagens da TV me mostravam o indescritível: crianças famintas e feridas vagando pelas ruas, mortos abandonados à putrefação na margem das avenidas, pessoas disputando um copo de água na tapa, e o sofrimento, a miséria, a sensação de perda, de desenraizamento, de completa e total incapacidade de superar o caos ao redor.
O problema atual do Haiti é puramente de logística: como organizar o socorro, a alimentação, a segurança, a volta do fornecimento de serviços básicos, se toda a estrutura que havia foi arrasada? E ainda é preciso aturar insanos como um pastor evangélico norte-americano, Pat Robertson, que diz que o que aconteceu ali foi porque o país fez um pacto com o Diabo!
Ou então o cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine que, sem saber que estava sendo gravado, afirmou ao que a tragédia causada pelo terremoto que atingiu o Haiti está sendo boa, pois traz visibilidade ao consulado.
Braulio Tavares, na sua coluna de hoje no Jornal da Paraíba, fala sobre o lento terremoto de exploração e desmandos que afeta o Haiti há 200 anos; e muito outros profissionais- cientistas, filósfos, analistas políticos e econômicos, jornalistas – muitos outros discutem e buscam explicações.
Eu não. Eu simplesmente fico triste, choro, perco o apetite. Daqui, do meu canto, nada posso fazer. Já sou muito velha para pegar um avião e ir até lá ajudar. Não me sinto disposta fisicamente para tanto. E tenho medo, minha gente. Sou medrosa. Tenho medo de morrer longe de casa. Sou humana, sou frouxa, sou covarde. Sinto tudo isso quando vejo o medo, a tristeza e o sofrimento que pulsa no coração de parte da Humanidade, Humanidade essa que também é a minha Humanidade.
Nós somos um, e um de nós – um não, muitos – sofrem e sentem fome e medo.
Eu sinto também.