Ri-ri, miss e Jesus
Clotilde Tavares | 15 de agosto de 2010Talvez o meu caro leitor não saiba, mas sou uma moça prendada, educada em colégio de freiras e dominando habilidades que hoje não mais fazem parte da educação das jovens. Assim é que sei costurar, bordar, fazer tricô, crochê e ponto de cruz. Imbuída da importância de tais tarefas, e horrorizada com o preço cobrado pelas costureiras, vez por outra resolvo eu mesma costurar, tarefa na qual me saio muito bem, apesar de certa dificuldade em enfiar a linha na agulha.
Entre os aviamentos usados na arte da costura, um dos mais comuns é o fecho éclair, que sempre me faz lembrar de uma conhecida minha, que chamava essa peça de “flash”, segundo ela porque abria e fechava com rapidez. Ora, essa explicação tem tudo a ver, já que “éclair”, em francês, significa relâmpago. Minha mãe o chamava de “ri-ri”, pelo barulhinho que o fecho fazia ao deslizar. E se você achou engraçado, caro leitor, lembre-se de que em inglês o termo para esse tipo de fecho é “zipper”, que vem exatamente da palavra “zip”, que quer dizer silvo, sibilo. Tanto a palavra sertaneja como a inglesa servem ao mesmo propósito: designar o objeto aludindo ao som que ele provoca.
É curioso observar os nomes que as coisas adquirem, de acordo com o estado, ou a região. Eu chamo aquele arco de colocar na cabeça prendendo os cabelos de “diadema”. Muita gente chama de “arco”, ou “tiara” e já vi chamarem também de “traca”.
Um simples friso de cabelo pode levar a confusões indescritíveis. Você pode andar uma cidade inteira à procura de um friso, e não vai encontrar, pois nesse local o conhecem por “grampo”. E eu andei uma tarde todinha pelas lojas da Avenida Sete, no Campo Grande, na Bahia, querendo comprar uma caixa de frisos, para somente depois, ao chegar no Hotel, descobrir que o nome daquilo, na Bahia, era “miss”. Já minha mãe, no seu linguajar sertanejo, chamava friso de “biliro”.
Tem também umas coisas que são deliciosas. No Maranhão, por exemplo, existe – ou existia – um refrigerante como um guaraná que é cor de rosa e cujo nome é “Jesus”. Uma das coisas que eu mais gostava quando ia a São Luís era entrar numa lanchonete e dizer “- Moço, me dá um Jesus!” E lá vinha o homem com aquela garrafa da cor de uma pétala de rosa.
Palavras, palavras, palavras: tão ricas, tão belas, tão saborosas. Inglesas, francesas ou sertanejas, não importa: na boca do povo ganham vida, ganham alma e graças a elas esta que hoje vos escreve tem assunto para este domingo preguiçoso.
[...] Lembrei-me dessa crônica ao ler as sempre bem traçadas linhas da Clotilde Tavares, que, com seu texto de hoje, não só me fez rir como também aprender o nome original do zíper – e olha que eu, filho [...]
Clotilde,elogiar seus textos é redundancia,Deus lhe deu esse, entre outros dons.Quanto ao guaraná Jesus, ele existe em latinhas, em garrafinhas pet de 250 ml e pet de 02 litros,disponíveis no Maranhão e em algumas cidades da fronteira de MA/PI.Estou com 02 latinhas aqui em casa, morrendo de pena de tomar, poi não sei quando conseguirei outras.kkkkk.Em tempo:A empresa foi comprada pela Coca Cola Co. ,a fabricacão do guaraná continua, mas para distribuicào nos dois estados.
Oi Clotilde, parabens pelo sucesso do BOTIJA, vi que tera distribuicao nacional, merecidamente! beijos
Você acredita que aconteceu o mesmo com minha amiga paraibana quando ela foi ao Estado do Maranhão? Ela entrou numa loja querendo um friso, mobilizou sete vendedoras e nenhuma achou o friso…depois de muita discussão, eis que aparece o grampo! hahaa
Adorei o texto!
No Ceará, seu diadema seria chamado de “gigolé” ou “gigolete”
[...] Lembrei-me dessa crônica ao ler as sempre bem traçadas linhas da Clotilde Tavares, que, com seu texto de hoje, não só me fez rir como também aprender o nome original do zíper – e olha que eu, filho [...]